Por: LUZ MARINA ALONSO PALACIO. Vicepresidente Red Iberoamericana de Empatía. Coordinadora General del II Congreso Internacional Multidisciplinario de Empatía.
Traducción al Portugues: Dra. Mielina Sifuentes. Instituto de Idiomas. Uninorte.
Durante o 1º Encontro da Rede Ibero-Americana de Empatia, realizado na Universidade Veracruzana, na Região de Poza Rica-Tuxpán (México), destacou-se a necessidade de uma abordagem multidisciplinar do fenômeno empático, que transcendesse a temática de formação em ciências da saúde, sua delimitação original, sem perder de vista a importância de incorporar conceitos como a empatia nos processos de ensino- aprendizagem. Com esse objetivo, foi planejada a realização do II Congresso Internacional Multidisciplinar de Empatia, evento realizado nos dias 8 e 9 de agosto na Universidad del Norte, na cidade de Barranquilla (Colômbia), com a presença de palestrantes da Espanha, Estados Unidos, México, El Salvador, Argentina, Chile, Cuba, República Dominicana, Peru, Paraguai, Colômbia, entre outros, representando mais de 14 universidades nacionais e pelo menos uma dezena de universidades estrangeiras.
A recepção ficou a cargo do Dr. Alberto de Castro – Vice-Reitor da Universidad del Norte, Dra. María del Pilar Garavito Galofre – Decana de Ciências da Saúde dessa universidade, Dra. Nancy Gómez Arrieta – Decana da Divisão de Humanidades e Ciências Sociais, Dr. Víctor Patricio Díaz Narváez – chileno, Diretor Internacional de Pesquisa de Empatia, e Dra. Sara Huerta González – mexicana, Presidenta da Rede Ibero- Americana de Empatia (RIE). Na ocasião, foram delineadas as dificuldades e perspectivas que seriam abordadas nas diversas palestras do congresso, tais como: ressignificar o “não envolvimento” no cuidado; tecnologia, atualidade e saúde mental; e a compreensão do fenômeno empático, descrito como um “buraco negro” que, quanto mais se pesquisa, mais perguntas gera.
A primeira palestra, a cargo do Dr. Víctor Patricio Díaz, abordou a filogenia e ontogenia da empatia, que, do ponto de vista biológico, é entendida como o resultado de milhões de anos de evolução e que requer, para se expressar, cuidados precoces, especialmente maternos, além de fatores educacionais, sociais, psicológicos e culturais ao longo da vida que devem operar simultaneamente. Precisamente, é na abordagem do contexto, tão importante quanto a biologia para efetivar essa metacognição, que não devem ser negligenciadas, por exemplo, as abordagens da medicina comunitária, que permitem aproximar as diferentes populações do sistema de saúde, forjando um vínculo sólido por meio do atendimento pessoal com profissionais locais conhecidos. Essa experiência foi apresentada pela Dra. María Regla Bolaños, da Escola Nacional de Medicina Comunitária de Cuba. Compreender as necessidades coletivas no cuidado é uma experiência compartilhada também pela Dra. Emilien Flores em suas contribuições na enfermagem no Peru rural. No entanto, existem visões divergentes que, inerentes ao intercâmbio de ideias, enriquecem a discussão: durante a mesa-redonda moderada pelo Dr. Javier Rodríguez Zabala, na qual participaram, entre outros, o psicólogo PhD. Jean David Polo Vargas e a filósofa Deyaneira Consuegra Ojeda, argumentou-se que a empatia não consiste no reconhecimento da subjetividade de um Outro que se conhece ou que faz parte de quem experimenta a empatia, mas sim em relação a alguém que se mostra totalmente alheio e diferente, destacando a implicação dessa habilidade social na definição de limites entre o eu e a alteridade.
Entre os fatores que devem operar para o desenvolvimento do fenômeno empático, não devem ser ignorados os fatores históricos. Em tempos caracterizados por novas tecnologias, insere-se o proposto pela Dra. Andrea Cancino, que considerou, à luz das pesquisas recentes em Inteligência Artificial (IA), que, embora essa tecnologia não possa experimentar empatia, pode produzir ferramentas que fomentem a reflexão empática e um ambiente pró-social no ciberespaço. Também foram abordadas as transformações culturais deste século: a educação na modernidade líquida, a incerteza do mundo VUCA e BANI – como apontou a Dra. Melina Sifuentes, do Brasil – e a generalização do hiperconsumo. As novas condições de formação e os interesses variáveis dos estudantes exigem a busca por abordagens diferentes para educar em empatia, sendo os produtos culturais do domínio cada vez mais difundido do entretenimento, como o cinema, uma ferramenta-chave para abrir caminho para a empatia no horizonte das novas gerações de profissionais, como propõe a Dra. Nancy Gómez Arrieta, decana da Divisão de Humanidades da Universidad del Norte. Da mesma forma, o Dr. Rusvelt Vargas, da área de saúde pública, destacou metodologias promissoras, como o uso de mangás e animes para o desenvolvimento da empatia em profissionais de saúde.
Cabe destacar que um dos temas em que o II Congresso Internacional Multidisciplinar de Empatia colocou ênfase foi a prestação de serviços de saúde – Atenção Primária em Saúde, onde se ressaltou a responsabilidade e a mudança que as redes de atenção, principalmente, requerem – e a formação de profissionais de saúde para um tratamento humano, digno e responsável. Os doutores Carlo Caballero Uribe, Juan David Salcedo, Luis Armando Vila Sierra, Dr. Rubén Eduardo Vásquez García, Dra. Ana María Erazo e a enfermeira Aury Gutiérrez abordaram as mudanças necessárias no atendimento a partir de diagnósticos preliminares, com propostas inovadoras que podem conduzir a um sistema de saúde resiliente, que leve em conta os pensamentos, emoções e experiências dos pacientes. Foi apontada a existência de uma “curva” descendente da empatia em estudantes de ciências da saúde com o avanço de suas carreiras, sendo apresentadas diversas explicações e possíveis soluções. A Dra. Yolanda Dávila, de Cuenca, Equador, a Dra. Nuvia Estrada, de El Salvador, a Dra. Jorgelina Ullogue, entre outros, da Argentina, coincidem na importante influência do funcionamento familiar no nível de empatia dos formandos. Também se destacou a contribuição da Dra. Lesbia Tirado, da Universidade del Sinú Cartagena, com sua aposta no fortalecimento de possíveis fatores, como a autoeficácia, para o alcance da empatia no processo de formação. Mas está claro que esses não são os únicos fatores; vários dos aspectos associados à empatia são elucidados no piloto de revisão “guarda- chuva”, cujos resultados foram compartilhados pelo Dr. Javier Rodriguez Zabala; por exemplo, pertencer ao gênero feminino, receber educação empática e estudar enfermagem. Este último se conecta ao que foi exposto pela Dra. Sara Huertas, que destacou a enfermagem como uma ciência do cuidado e, como tal, intimamente ligada à empatia. Em virtude disso, enfatizou a necessidade de educar em emoções, com comunicação, apoio contínuo, uso de tecnologias e cultura empática. É importante mencionar os trabalhos sobre empatia apresentados pelo Dr. Andrés Llanos Redondo, da Universidad de Pamplona, onde a empatia é articulada como eixo fundamental para a melhoria dos serviços de hospitalização na Colômbia. A conferência da Dra. María Guadalupe Silva, da Universidad Pedro Henríquez Ureña, destacou o esforço e o compromisso em incluir populações com algum tipo de condição de deficiência. Os doutores Fidel López, da Espanha, Dra. Alma Rosa Quiróz e Dra. Sindy Meléndez, do México, também apresentaram os resultados de suas pesquisas sobre a relação entre empatia e enfermagem e, em geral, profissionais de saúde durante suas respectivas palestras.
No entanto, existem outras áreas que mostraram mérito em sua ligação com a matéria que motivou o evento. Desde a Universidad Libre (Colômbia) e a Instituição Universitária Tecnológica de Antioquia (TdeA), foram apresentadas experiências que vinculam empatia, saúde mental, maus-tratos e o tema do conflito; o Dr. Ricardo Cisneros, da Universidade da Califórnia-La Merced, relacionou-a com o meio ambiente e, especificamente, a qualidade do ar; o Dr. Igor Cigarroa, da Universidade Católica Silva Henríquez, do Chile, ligou-a à atividade física, assim como o fez a palestra da Universidad Santiago de Cali (Colômbia), a partir de outro ponto de vista; a Universidad Cooperativa da Colômbia, a Corporación Universitaria Rafael Núñez de Cartagena e a Universidad del Atlántico (Colômbia) discutiram as possibilidades do encontro entre educação, saúde, empatia e espiritualidade, conforme a Dra. María Alicia Agudelo Giraldo. Também foram realizadas reflexões importantes, como a suscitada pelo Dr. Mauricio Herron, que argumentou que uma empatia socialmente eficaz, mais do que exigir “colocar-se no lugar do outro”, compreende que a situação, interesses e sentimentos deste não podem ser extrapolados aos próprios. Por outro lado, foram apresentadas abordagens à questão do estigma, tipos de patologias e o tratamento da dor crônica osteomuscular e o trabalho com a empatia, em palestra apresentada pelo Dr. Gary José Caballero. As pesquisas realizadas no Chile em relação às competências interculturais dos profissionais de saúde, empatia e atendimento à saúde, pelo Dr. Victor Pedrero, da UNAB do Chile, deixam claros os desafios prementes na formação desses profissionais. Palestras com modelos de pesquisa bem-sucedidos, como a do Valor Compartilhado do Programa Geração Vida Nova, pelo Dr. Carlos Ricaurte, deixam claro o valor da empatia na gestão das pesquisas e até mesmo as aplicações da empatia na formação de competências laborais e no ambiente de trabalho, com palestras apresentadas pelo Dr. Jorge Valencia e pela Dra. Diva Mendoza, e nos cenários da administração, como apontado pelo Dr. Fulvio Celauro Falcón, do Ministério da Saúde Pública e Bem-Estar Social do Paraguai. As discussões geradas em torno da análise da iniciativa “Barranquilla como vamos” também acrescentaram elementos de reflexão para nos aproximarmos de uma cidade que requer esse tipo de trabalho. Foi igualmente enriquecedor compartilhar propostas inovadoras relacionadas con marketing social da saúde e empatía pelo Dr. Heberto Priego Alvarez de México além das desenvolvidas
em hospitais e centros educacionais, como as compartilhadas pelos doutores José e Juan Diego Julio Pretlet com sua conferência relacionada à felicidade e ao terreno mágico do conto como protagonista para a formação com empatia nos estudantes, a cargo dos doutores Brenda Pianeta e Pbro. Juan Diego Estrada. A fertilidade deste tema, tanto a nível teórico quanto prático, começa a germinar propostas como as “Sementes de Empatia”, sessão liderada pelo Dr. Edwis Ramón Morales Solana, da Universidad del Magdalena. Este espaço propõe conectar docentes e estudantes com o objetivo de robustecer novas linhas de pesquisa e compartilhar experiências, emoções, sentimentos e contextos solidários.
Ressaltar a variedade de abordagens possíveis à teoria e prática da empatia é um resultado palpável do congresso realizado, demonstrando que falar sobre esse tema não é apenas atual e necessário, mas também abrangente. Tal fato, ao deixar mais perguntas do que respostas, cumpre o objetivo de um congresso que, mais do que compartilhar o conhecimento existente, suscita novas questões que servem de motor para um trabalho científico entusiástico que continue a contribuir não só para a compreensão da empatia, mas também para a implementação da mesma na conduta pró-social e na solidariedade humana, que devem ser o marco em que a ciência se desenvolva para que esteja à altura de sua missão de contribuir para a realização de um mundo melhor.
Ao final da jornada, realizou-se a reunião dos integrantes da Rede Ibero-Americana de Empatia, acordando- se por consenso que o novo ponto geográfico do próximo congresso será na Universidad de Extremadura, na Espanha, em novembro de 2025.